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Gestão educacional e valorização da profissão académica: estudo revela impacto das políticas institucionais nas competências e atitudes de professores no Brasil
Docentes que atuam em instituições de ensino superior brasileiras mostram-se mais comprometidos com comportamentos de colaboração, lealdade e proatividade quando percebem políticas institucionais claras de valorização profissional, segundo uma tese defendida no Doutoramento em Educação do CeiED/Universidade Lusófona.
A pesquisa, desenvolvida por Marcelle Rossi de Mello Brandão, analisou dados de 386 docentes de instituições públicas e privadas, propondo um modelo que relaciona as políticas e práticas de administração de professores às competências pedagógicas e científicas, bem como aos comportamentos de cidadania organizacional (CCO) — atitudes espontâneas e positivas que vão além do papel formal dos docentes, como ajudar colegas, propor melhorias e representar bem a instituição.
A principal descoberta mostra que quanto mais a instituição investe na formação continuada, em boas condições de trabalho, incentivos à pesquisa, reconhecimento profissional e avaliação justa de desempenho, maior é a expressão de competências e comportamentos que contribuem para a qualidade educacional. “Os dados confirmam que a gestão estratégica do corpo docente não apenas forma melhores professores, mas também impulsiona uma cultura organizacional mais colaborativa e inovadora”, explica a autora.
Realizada entre 2022 e 2024, a investigação utilizou técnicas avançadas de análise multivariada, como Análise Fatorial Exploratória (AFE) e Modelagem por Equações Estruturais (MEE), para testar as relações entre 36 variáveis agrupadas em seis fatores institucionais, duas dimensões de competência (científica e pedagógica ) e cinco fatores comportamentais ligados ao CCO.
A tese propõe ainda uma reconceitualização da gestão de pessoas na educação superior, inspirada em metáforas como o “nós críticos” (representando os desafios complexos e muitas vezes contraditórios da gestão académica) e as “redes neurais” (enfatizando a importância das conexões entre atores e políticas). “A valorização da profissão docente no século XXI exige uma abordagem que supere práticas fragmentadas e busque coerência entre políticas institucionais e os sentidos que os professores atribuem ao seu trabalho”, afirma Marcelle.
Ao integrar abordagens da administração, da psicologia das organizações e da educação, o estudo oferece subsídios relevantes para reitores, gestores educacionais e formuladores de políticas públicas interessados em promover a valorização do trabalho docente em tempos de transformação e incerteza.
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