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Estudo revela limitações nas metodologias de investigação realizadas em escolas durante a pandemia COVID-19

Investigações em contexto escolar que utilizaram tecnologias e dispositivos digitais para recolher informação qualitativa durante a pandemia COVID-19, a nível internacional na área da educação, revelam pouca ou nenhuma discussão aprofundada sobre implicações éticas. Este é um dos resultados de um mapeamento sistemático de literatura realizado por dois investigadores do CeiED, Leanete Thomas Dotta e André Freitas, e uma investigadora do CIIE (Centro de Investigação e Intervenção Educativas) Rita Tavares de Sousa. 

A publicação do artigo científico, na prestigiada revista London Review of Education editada pela UCL Press - University College London (Reino Unido), revela ainda que uma das fragilidades dos estudos realizados durante a pandemia é a transposição direta dos métodos tradicionais de recolha de informação qualitativa para ambientes virtuais, à distância. As dificuldades estão relacionadas à leitura da linguagem corporal dos participantes, à construção de confiança entre investigadores e participantes, e a uma menor compreensão contextual dos participantes. 

Relativamente às questões éticas, os poucos estudos que as abordam revelam dificuldades como a proteção da confidencialidade dos participantes em conexões virtuais, à distância, além dos desafios para obter consentimento livre e informado de populações vulneráveis. Tendo em conta as especificidades envolvidas neste tipo de recolha de dados, uma maior atenção à dimensão ética é incontornável. 

A maioria das implicações referidas pelos autores das investigações analisadas, relativamente à recolha de informação qualitativa através de tecnologias/dispositivos digitais durante a pandemia COVID-19, são iguais àquelas identificadas em investigações anteriores ao contexto pandémico. Apesar deste cenário, importa realçar que as referidas investigações podem ser consideradas como notáveis exemplos de compromisso social e científico com a continuidade de investigações em educação.

Geralmente, a reflexão ética ocupa um lugar periférico na seção metodológica de artigos científicos que resultam de trabalhos empíricos na área da educação, a nível internacional. No entanto, esse cenário está a passar por uma reconfiguração. Embora os limites de palavras impostos aos investigadores nesses tipos de publicações expliquem, em parte, a abordagem superficial ou a ausência de uma discussão ética mais profunda, isso não justifica a sua omissão. A reflexão ética torna-se fundamental, particularmente num cenário de pandemia COVID-19 que impactou severamente os processos educativos vividos na escola, por decisão política e ação da comunidade educativa, transformando tempos, espaços e vivências com limites de interação presencial.

Leanete Thomas Dotta e André Freitas, a par com a co-autoria de Rita Tavares de Sousa (U.Porto), entendem que, tratando-se de recolhas de informação à distância mediadas por tecnologias/dispositivos digitais, é imprescindível que as discussões abordem questões de justiça representacional nos estudos desenvolvidos.

Em causa poderão estar pessoas e comunidades que podem ser excluídas da sua participação em estudos pela escassez ou ausência de acesso a tecnologia digital, ou pessoas que podem ser sujeitas a uma participação coerciva.

Não obstante aos resultados obtidos por este mapeamento sistemático, os autores alertam que tais resultados devem ser interpretados dentro das limitações metodológicas do estudo. Portanto, devem ser considerados como indícios que incentivam novas reflexões e análises sobre o tema.

Acesso integral e livre ao artigo científico, em inglês, aqui.

Citar este trabalho: Thomas Dotta, L., Freitas, A., & Sousa, R. T. (2024). Methodological issues in technology-mediated qualitative data collection: A mapping of research undertaken in schools during the Covid-19 pandemic. London Review of Education, 22 (1), 34. https://doi.org/10.14324/LRE.22.1.34